Você acabou de acordar. Sua cabeça está girando, você não sabe o que pensar. Você, agora, não consegue ver absolutamente nada. Então seus olhos começam a se acostumar com a luz.
Está claro. Tudo está vazio; você está num lugar que nunca viu. É um corredor, e você não sabe onde ele termina. Nem onde ele começa. Você está no meio. Há um infinito para cada lado. Você está sozinho. Absolutamente sozinho.
As paredes são da cor da sua pele. Você está nu, e não há nada que possa diferenciar seu corpo da parede. Você é monocromático. Não há relevo. Você não se enxerga.
Você está andando. Agora, pessoas passam por você e não te percebem. Elas têm relevo. Elas têm cor. Elas têm roupa. Você estranha. Você fala, mas elas não te ouvem. Você percebe que não está produzindo som. Você ouve uma vibração imaginária. Não há som. Você está nesse momento abrindo a boca e usando todas as suas forças para produzir algum som. Mas o ar não sai. O ar também não entra.
Ninguém está te notando. Você está tentando chamar atenção. Os ruídos não estão saindo. Você se movimenta. Ninguém vê seus movimentos. Você os toca. Ninguém reage. Você se desespera e os soca. Ninguém desvia dos socos que você está dando.
Você começa a enlouquecer. Seus passos aceleram, mas você está perdendo suas forças. Na verdade, você anda cada vez mais devagar. Você não sabe mais o que falar. Você não sabe mais o que fazer. Você está sozinho, e de verdade. Você se pergunta se ainda há algo a tentar.
Seu pensamento começa a sumir.
Você não existe.