sábado, 21 de junho de 2008

Corre-dor

Você acabou de acordar. Sua cabeça está girando, você não sabe o que pensar. Você, agora, não consegue ver absolutamente nada. Então seus olhos começam a se acostumar com a luz.

Está claro. Tudo está vazio; você está num lugar que nunca viu. É um corredor, e você não sabe onde ele termina. Nem onde ele começa. Você está no meio. Há um infinito para cada lado. Você está sozinho. Absolutamente sozinho.

As paredes são da cor da sua pele. Você está nu, e não há nada que possa diferenciar seu corpo da parede. Você é monocromático. Não há relevo. Você não se enxerga.

Você está andando. Agora, pessoas passam por você e não te percebem. Elas têm relevo. Elas têm cor. Elas têm roupa. Você estranha. Você fala, mas elas não te ouvem. Você percebe que não está produzindo som. Você ouve uma vibração imaginária. Não há som. Você está nesse momento abrindo a boca e usando todas as suas forças para produzir algum som. Mas o ar não sai. O ar também não entra.

Ninguém está te notando. Você está tentando chamar atenção. Os ruídos não estão saindo. Você se movimenta. Ninguém vê seus movimentos. Você os toca. Ninguém reage. Você se desespera e os soca. Ninguém desvia dos socos que você está dando.

Você começa a enlouquecer. Seus passos aceleram, mas você está perdendo suas forças. Na verdade, você anda cada vez mais devagar. Você não sabe mais o que falar. Você não sabe mais o que fazer. Você está sozinho, e de verdade. Você se pergunta se ainda há algo a tentar.

Seu pensamento começa a sumir.

Você não existe.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Olhe-me nos olhos.

Pelo menos, consigo ver o quanto és parecido com a minha pessoa. Não conto pelo mesmo motivo que não me contas, ao tempo que sei que sabes e que tu sabes que sei. E preferimos agir como se não soubéssemos, como se nós e somente nós pudéssemos passar o que sabemos para alguém. Preferimos ignorar que o outro saiba, e nos vemos  achando que o outro não sabe, sabendo que ele sabe.

Mas por que eu espero que as pessoas sejam melhores que eu?

Não sejas igual a mim.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Essa semana

Informação informação muita informação barulhos informações poluição visual poluição sonora poluição informacional loucura velocidade latejos informação confusão muita coisa corrida tempo tempo tempo cadê o tempo informação barulhos irritação sono informação letras figuras poluição tempo notas informação informação sono mais sono muito sono informação decorada não informação entendida decorar decorar decorar informação sono irritação stress angústia decepção.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um último suspiro

Mas, mesmo sendo um dia como todos os outros, seus olhos se recusaram a abrir. Afinal, não era um dia como todos os outros. Para ela, sim, para muitas outras pessoas, também. Mas não era. Era e não era. Era e não era? Era ou não era? Sei lá.

Marie não sabe responder mais as perguntas, passou o dia longe, passou o dia sem se concentrar. Perdeu o ponto, andou um bocado, olhou para os cantos e ficou no meio. Estava perdida.

Precisava de algum canto, mas sabia que demoraria para encontrar. Não se pode ir sozinha. Talvez. O fato é que Marie não queria ir sozinha. Mas ela não conseguia achar ninguém para ir com ela. Estava perdida.

Não sabia se era ou não era, não sabia quem iria com ela, não sabia se hoje não é e amanhã será. Não sabia pensar. No fundo, talvez, ela só queria que não fosse um dia como todos os outros. Para ela. Para os outros também. Mas não podia para os outros e não para ela, porque seria um dia diferente para ela só por ser diferente para os outros. Estava perdida.

Marie, descabelada, chegou em casa, não sabendo se perguntava ou se afirmava.

Ano que vem será diferente( )

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Doze

Chegarei em casa sem o perfume de pétalas de rosas. Chegarei sem o sorriso, sem o brilho no olhar. Descabelada, sem ter por quem me arrumar. Normal. Normal quando não devo. Sem as pétalas espalhadas no chão e no coração. O ar vermelho que entra pela boca e dá uma volta pelo pulmão. Acelera a respiração. Chegarei em casa sem alguém para dar a mão, chegarei perdida em solidão. Solidão não só, mas somente só. Faltará o porque sorrir longe, porque não quero mais sorrir perto. Sem suspiros, sem a meia-luz, sem a vela que nos ilumina. Chegarei em casa como todos os dias, pois nunca foi diferente, e não será tão cedo.

Aparentemente.

Vida

Dá a vida.
Vi a vida.
A vida dá,
E vi no que dá,
E dá na vida.
A vida que vi.
Oh, vida, vida.
Dá vida, dá o que vi.
______.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Ei...

Olha o sol.

domingo, 1 de junho de 2008

Sob o guarda chuva

Como o fogo encanta. O poder destrutivo dele, a sua força. Eu, a observar suas chamas, meu olhar balançando junto com o calor que emana desse elemento tão fantástico, quase hipnotizada.

Só o fogo é capaz de trazer um estado como esse.

Milhares de pensamentos me vieram. Vi-me circundada de pessoas maravilhosas, das quais quero estar sempre junto. Mas... é tão terrível que haja tantas pessoas por aí, esperando para serem conhecidas! Tantas pessoas maravilhosas, e tão pouco tempo para conseguir estabelecer algum laço com elas, entre elas. Não há vida suficiente para tantas pessoas, tantos sorrisos.

Chorei como nunca antes. Chorei porque me veio a vontade, sem alguma explicação lógica. Chorei, pois sem as lágrimas não conseguiria entender o amor que me abraçou tão repentinamente. Um amor que assusta, pois desconheço. Chorei, sim, pois nunca precisei tanto.

Não consegui entender o motivo, e o fogo trouxe-me uma atmosfera que, arrisco dizer, é mágica (há tempos procuro encontrar alguma palavra que se encaixe melhor aqui). Uma elevação de espírito, talvez. O momento que encontrei para pensar, e fazia tanto tempo que eu não o fazia... Olhar para a vida, olhar para as pessoas, olhar para os sentimentos. Parar e se perguntar dos fatos que, a todo momento, passam na nossa frente. O momento para parar, e pensar.

Chorei, olhando para as pessoas, ouvindo as palavras, notando o estalar do fogo. Chorei abraçada, tremendo com o vento gélido que passava pelas minhas costas, impedindo as gotas de chuva de caírem sobre nossas roupas. Chorei escondida, impedindo as pessoas de perceberem. Pois não sabia o motivo. Pois não entendi o amor tão forte que por elas senti. Pois não consigo explicar o inexplicável, e isso angustia. Traz a angústia de não poder explicar algo que não sei.

Chorei, lágrimas escorrendo incontrolavelmente. Até que, num abraço debaixo da árvore, percebi que o buraco que me tinham feito há algumas semanas foi preenchido. Uma se foi, e inúmeras vieram. Há tanta gente nesse mundo.

Entendi um pouco, talvez, essa nova modalidade de amar.

A lua, por entre as nuvens carregadas, tentava nos observar.