sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Rosa

Uma vez disseram algo para uma menina um pouco apegada ao ceticismo. Mal sabia a força, acreditava sem acreditar, queria acreditar mas via a impossibilidade da verossimilhança. Certo dia, pensou, imaginou com tanta força e certeza.

O que se imagina, acontece.

Ela quis a chuva e a chuva veio. Ela aguardava, lá, lá mesmo. E vinha alguém, que aparecia de surpresa. Era chuva. Um beijo, uma conversa, uma risada.

Mas quando deixa-se de acreditar, deixa de acontecer.

Ela fugiu daquilo. Boa sorte. Ela não consegue mais olhar as caras e bocas, não consegue mais se prolongar. Fala mas não faz, faz mas não fala. Fazer e falar. Ela deixou de acreditar na chuva e veio o sol. Ela deixou de acreditar na conversa e veio o silêncio.

Medo.

Sente-se num dia preto-e-branco. Sorriso de obrigada, mas não quero sorrir. Fica vai vai fica. Lembra-se que na bifurcação há três caminhos. Ainda dá tempo, mas não. A menina espera dos outros o que ela não consegue.

Ação.

Era uma vez uma menina que acreditava em contos de fadas. Tinha uma rosa. Um bilhete na grafia característica. Dia de sol, flores. Ela acreditava nisso, no dia que começaria a chover. Mas o medo fez com que fosse só um sonho. Era mais que sonho.

O que se imagina, acontece.

Lá é tudo tão mais fácil e bonito que o maçante dia-a-dia estraga a beleza dos contos de fadas. À menina só resta lembrar que ainda não pode dormir, esperando ser acordada. Inversão de papéis.

Menina, põe um pouco de magia e cor no teu conto de fadas, menina.

Um comentário:

yuribt disse...

Juro que me lembrei da Nhinhinha, a menina de lá, do Guimarães Rosa, que quis a chuva e a chuva veio.