sábado, 16 de dezembro de 2006

Castelinho de Areia

Me pediram para construir um castelinho de areia, num dia ensolarado.
Fiz um. Ele não era perfeito, mas estava bem atraente.
Mas ela chutou, destruiu meu trabalho. Não estava do jeito que gostaria.
Eu tentei de novo. Esse foi mais demorado, complicado, a areia já estava árdua para trabalhar.
O resultado final foi bem atraente: parecia que pequenas princesas e seus príncipes encantados moravam lá.
Mas não. A criança queria um castelo perfeito.
O que é perfeito?
O sol estava se pondo, o dia ia se esvaindo...
Decidi descansar um pouco, brincar na praia.
A criança veio atrás de mim, brigou comigo. Disse que eu era muito pequena para conseguir fazer um bom castelo de areia pra ela.
Pois muito bem, respirei fundo, pensei que poderia ser bom brincar no castelinho (com nome inapropriado, devo dizer, pois suas dimensões deveriam ser incrivelmente maiores nesta altura) junto com aquela menina.
Dei tudo de mim naquele castelo. Utilizei todo o meu esforço, encontrei mais do que imaginei ter. Desgastei-me, mas não desisti. Estava decidida a fazer um trabalho notavelmente primoroso.
Cuidei de todos os detalhes. Cada porta, janela, passagem... Cada adorno em volta de cada moldura, cada quadro, cada objeto de decoração.
Foram dias de trabalho incansável. O céu já não estava ensolarado. Nuvens avançavam silenciosamente, enquanto o vento frio sussurrava no meu ouvido.
Quando finalmente o trabalho foi terminado, dei lentos passos para trás e admirei meu trabalho realizado com primor, cansada.
Estava realmente perfeito. Não tinha absolutamente nenhum erro, nada. Olhei... e não pude deixar de dar um largo sorriso.
A criança veio correndo pra mim, parecia que ela tinha gostado dessa vez. Pelo menos em seu rosto emanava alegria, ela não era capaz de esconder.
Mas parecia que, sempre que ela passava por alguma parte do castelo, ela destruía um pequeno pedaço, algo aparentemente mínimo, e não fez questão de disfarçar o olhar invejoso que lançava sobre mim quando notava algum detalhe extraordinário.
Passado alguns dias, o castelo ruiu, aparentemente pelos detalhes mínimos destruídos por aquela menina que estava parada na minha frente. Furiosamente, olhou para mim; seu rosto imediatamente se configurou numa expressão que paralisaria qualquer transeunte. Apontou seu dedo para o meu rosto impassível. E me culpou pela queda de seu castelo.
Me culpou por algo que eu não fiz. Por algo que a vi fazendo.
Afastou-se, chorosa, dizendo que eu nunca dei atenção às atitudes gloriosas e louváveis para me ajudar a construir o castelo dela. Gritou, por cima do ombro, que eu não era capaz de entender o que se passava na cabeça adulta dela; esbravejou que não tinha a capacidade de construir um castelo decente.
E saiu correndo, desesperada.
Chega desse faz-de-conta, não sou nenhuma criança que acabou de descobrir que é possível ser feliz.
A criança, mimada e possessiva, que quer algo ou grita escandalosamente, é outra pessoa...
E eu não vou mais ajudá-la a construir seu castelinho de areia que tanto insiste em destruir.

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