terça-feira, 31 de outubro de 2006

Consolo

No escuro do quarto, assistindo a luz abandonar o céu que horas antes parecia sorrir.
Assistindo a luz abandonar-me.
Sozinha, perdida em meus pensamentos, tentando encontrar uma saída para esta situação exasperadora.
Sozinha, procurando o consolo que as lágrimas não me deram.
Preciso demonstrar essa tristeza, falar o que não falei, fazer o que não fiz, ir para onde não fui, ser o que jamais serei.
Sozinha, descobrindo que as lágrimas não são suficientes. Descobrindo que estas gotas não são apenas água, mas sim todo o ódio, raiva e frustração que estão comprimidos dentro de mim, gritando desesperadamente, tentando escapar, explodir. Se libertar.
Estes gritos que ecoam nos meus ouvidos, desafiando-me a extinguir o que já tantas vezes tentei, mas não consegui.
Essa vontade de apagar o que já fiz, apagar essa trilha que me conduz a uma floresta escura, onde trevas reinam, onde só há uma entrada, mas nenhuma saída.
Tal floresta que me dá angústia, um aperto no coração, uma dor insuportável, sufocando, asfixiando, retirando cada resquício de felicidade que antes residia nessa alma, matando cada sorriso verdadeiro. Deixando-me apenas os mais raros momentos de felicidade, cada vez menos freqüentes, e vejo que aquela conveniência nada mais faz do que chutar meus maiores sonhos para fora do alcance de vista, como uma criança... pura, simples e rapidamente.
Por favor, entenda, senhora. Pelo menos tente.
Esse vício é perigoso, odioso, mas não consigo largá-lo. É uma saída fácil, porém uma entrada perigosa. É conveniente demais.
Eu sei que é necessário enfrentar os dragões, mas eles são grandes demais para mim, e sozinha eu não consigo derrotá-los.
Sozinha eu não sou capaz de agüentar o sorriso zombeteiro do dragão me vendo completamente fraca, indefesa, só. Não sou capaz de agüentar o fogo que pelas narinas chamuscadas saem quando começo a tremer e a debulhar-me em lágrimas.
Lágrimas que o dragão não entende, lágrimas que não fazem sentido algum para os outros. Lágrimas que não são suficientes para suplicar piedade.
Onde eu posso encontrar consolo?
Observo agora a escuridão que tomou conta daquele azul que antes, muito tempo atrás, sorria.
Daquele azul que não imaginava estar fadado a ser mais triste.
Daquele azul que posso facilmente trocar pelo meu nome.
Observo, agora, a escuridão que tomou conta de mim, me arrastando para cada vez mais longe da luz.

Se tudo tivesse sido assim...
Seria outra hoje, e o universo inteiro
seria insensivelmente levado a ser outro também.

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